Síndrome de Down e Autismo: O que Você Precisa Saber Sobre o Diagnóstico Duplo
Muitas vezes, acreditamos que certos desafios nunca farão parte da nossa realidade. Até que um dia, a vida nos surpreende e nos coloca diante de situações inesperadas que nos fazem repensar tudo o que sabíamos.
Diagnóstico precoce de autismo em crianças com T21 abre caminhos para mais desenvolvimento, inclusão e qualidade de vida. Dra. Renata Aniceto alerta para a importância do olhar clínico especializado e participa do maior simpósio sobre TEA do Leste de Minas.
São Paulo, abril de 2025 – Você sabia que até 20% das crianças com Síndrome de Down (T21) também podem estar no espectro autista? O número surpreende, mas ainda passa despercebido por muitas famílias e profissionais. Isso porque os sinais de autismo (TEA) podem se confundir com características já conhecidas da T21 – o que torna o olhar clínico especializado fundamental para um diagnóstico precoce e um plano terapêutico mais assertivo.
Esse será o tema abordado pela Dra. Renata Aniceto, pediatra e nutróloga referência no Brasil, durante o Simpósio TEA GV 2024, maior evento sobre autismo do Leste de Minas Gerais.
Com mais de 20 anos de atuação em pediatria e nutrologia, Dra. Renata é especialista em T21 pelo CEPEC-SP, certificada em TEA e TDAH, e secretária do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ela também é fundadora da Comunidade Tribo 21, streaming de conteúdo sobre desenvolvimento infantil voltado a famílias atípicas, com alcance nacional.
Dra. Renata reforça que o reconhecimento do diagnóstico duplo pode ser um divisor de águas no desenvolvimento da criança com síndrome de Down e na rotina da família.
“O que parece apenas um atraso no desenvolvimento pode ser um sinal de que a criança está pedindo ajuda de outro jeito. Quando o diagnóstico vem cedo, conseguimos construir um caminho com mais leveza, mais recursos e mais conexão”, afirma.
De acordo com o DSM-5, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve comprometimentos persistentes na comunicação social e comportamentos repetitivos ou interesses restritos, observados desde a primeira infância. Quando se trata de crianças com Síndrome de Down, esses sinais podem se manifestar de forma mais sutil ou serem confundidos com características da própria T21 — o que torna o olhar especializado ainda mais necessário.
Dra. Renata orienta os pais e cuidadores a ficarem atentos, especialmente quando a criança com T21 apresenta:
- Pouca ou nenhuma resposta ao ser chamada pelo nome, mesmo em ambientes familiares;
- Falta de contato visual consistente ou de interesse em interagir com outras pessoas;
- Ausência de gestos comunicativos, como apontar, acenar ou mostrar objetos para compartilhar interesse;
- Brincadeiras repetitivas e pouco simbólicas, com preferência por girar, alinhar ou fixar em partes de objetos;
- Resistência acentuada a mudanças na rotina ou comportamentos ritualísticos (ex.: insistência em padrões rígidos);
- Hipersensibilidade ou baixa resposta a estímulos sensoriais, como barulhos, texturas ou toques;
- Dificuldade em desenvolver linguagem verbal ou ecolalia (repetição de palavras sem contexto funcional);
- Expressões emocionais limitadas ou pouco adaptadas ao contexto social.
A partir de um diagnóstico precoce, é possível indicar intervenções específicas, como:
✅ ABA – para habilidades sociais e comportamento funcional;
✅ Fonoaudiologia – para estimular a linguagem e a comunicação;
✅ Terapia Ocupacional – para integração sensorial e coordenação motora;
✅ Orientação familiar – para que os pais se tornem agentes ativos no processo.
“É preciso olhar para cada criança com T21 como única. E quando o TEA também está presente, esse olhar precisa ser ainda mais cuidadoso, responsável e empático. Diagnosticar é cuidar, e cuidar é transformar trajetórias inteiras”, destaca Dra. Renata.
Durante o simpósio, a especialista também compartilhará um caso vivido em seu consultório:
“Uma mãe me procurou porque o filho dela, de 2 anos e com Síndrome de Down, não respondia ao nome. Ela me perguntou: ‘Dra., isso é da síndrome ou pode ser autismo?’ Essa dúvida é muito comum — e extremamente válida. Iniciamos a investigação e, com o diagnóstico confirmado, conseguimos começar as terapias cedo. O resultado foi surpreendente: a criança passou a interagir mais, a se comunicar com os irmãos e a responder melhor aos estímulos.”
E se você está aqui comigo, saiba que não está sozinha.